Os dedos ocupavam-se com as teclas do computador, enquanto sua mente vagava pelos últimos acontecimentos em sua vida, bufava a cada cinco segundos por não conseguir se concentrar em seu trabalho. Quem poderia imaginar que Sasuke Uchiha se apaixonaria por seu enteado? Por mais que tentasse negar, o moreno sabia que foi amor a primeira vista, diferentemente, de todos os outros relacionamentos que teve antes, mas o mesmo tinha medo de que não fosse o suficiente para Naruto, talvez a diferença de idade fosse o que mais lhe incomodava.
O escritório de sua empresa permanecia calmo durante aquela tarde, Sasuke agradecia mentalmente por não ter nenhuma reunião marcada naquele dia, pois não teria a mínima paciência para ouvir seus sócios reclamando de alguma coisa. Suspirou massageando as têmporas em busca de concentração no trabalho, sua mente sempre insistia em retornar para o loiro de olhos azuis, deixando-o frustrado. Assustou-se ao ouvir a porta do seu escritório ser aberta com violência e uma ruiva furiosa passar por ela.
– Kushina?! – questionou Sasuke surpreso, piscou os olhos várias vezes ao analisar os cabelos bagunçados da mulher e o rosto vermelho de raiva, que deixavam-na com uma expressão cômica. – O que faz aqui? E o que aconteceu com o seu cabelo? – segurou uma risada presa em sua garganta, a Uzumaki trincou os dentes com raiva.
– Sem gracinhas, Uchiha! – exclamou com raiva e sentou-se na cadeira que ficava de frente para o outro. – Não deveria ter concordado com as suas ideias malucas. – começou a dizer depressa. – Por sua culpa acabei de perder meu filho. – Sasuke a encarou sem entender nada, os olhos verdes de Kushina encheram-se de lágrimas. – Naruto foi embora para a casa de meus pais. – despejou de uma vez, o Uchiha parou por alguns instantes tentando assimilar aquelas palavras.
– Como assim foi embora? – perguntou atônico. – Meu plano estava dando certo, acabei de vê-lo em sua casa… – parou ao lembrar-se de encontrar o loiro chorando quando chegou em casa. – Ele planejou tudo isso sem que desconfiássemos de nada. – disse para si mesmo. – “Como não percebi isso antes?” – praguejava-se internamente. – “Talvez ainda consiga alcançá-lo antes que embarque no avião!” – concluiu em pensamento e levantou-se rapidamente.
– Para aonde vai? – Sasuke ouviu a pergunta de Kushina soar atrás de si, porém ignorou a mesma e continuou andando em direção ao elevador, sendo seguido pela mulher. – Acho bom ter alguma ideia para trazer meu filho de volta ou arranco o que você tem no meio das pernas! – ameaçou assustadoramente e o outro engoliu em seco, aquela era a única mulher que o fez sentir medo na vida. Ambos adentraram o elevador e aguardaram o mesmo descer até o subsolo, onde ficava a garagem do prédio. – Agora desembucha de uma vez. – falou e o outro revirou os olhos entediado.
– Nós iremos até o aeroporto, talvez consigamos impedi-lo de embarcar naquele avião. – respondeu tranquilamente por fora, mas por dentro, o medo de perder Naruto o consumia de uma maneira assustadora. – Vamos logo! – Kushina seguiu o Uchiha um pouco contrariada, ela só esperava que ele fizesse certo dessa vez. – Não se preocupe, não deixarei que ele parta. – disse com um sorriso pequeno, mas não obteve resposta.
– Irei contar a verdade a ele e você também o fará. – afirmou calmamente. – Deixamos que essa história fosse longe demais, agora tenho medo de que meu filho me odeie por tê-lo magoado. – suspirou frustrada e com uma expressão cansada, sentiu uma mão pousar sobre a sua e um leve aperto sobre a mesma.
– Naruto é a única pessoa que conheço que é incapaz de guardar rancor de alguém, além de tudo, ele te ama muito e jamais sentiria raiva de você. – os olhos negros observavam as ruas, sua mente estava distante, um sorriso triste brotou em seus lábios. – Mas, não tenho certeza se ele me perdoará. – suspirou. – E ele terá a razão se não quiser mais olhar para mim. – concluiu e voltou sua atenção para o trânsito movimentado.
O restante do percurso foi todo em silêncio, os dois presos em seus próprios pensamentos. A viagem foi rápida, Kushina sabia que o voou seria as dezesseis horas e só restavam poucos minutos antes que o avião partisse. Caminharam a passos rápidos entre o grande aglomerado de pessoas no aeroporto, o portão de embarque demostrava que todos os passageiros já tinham embarcado e o desespero tomou conta de ambos.
– O voo para Paris, já saiu? – questionou para um dos guardas que estava ao lado do portão de embarque, o mesmo o olhou estranho e franziu o cenho. – Será que pode responder? Ou o gato comeu sua língua? – perguntou já irritado, o desconhecido engoliu em seco.
– O avião decolou alguns minutos mais cedo, Senhor! – o homem respondeu com medo da reação do Uchiha, este apenas sentiu seus olhos lacrimejarem por ter perdido a chance de impedir o loiro de fazer uma loucura, mas o moreno não estava pronto para desistir. – O senhor está bem? – o segurança questionou, mas foi ignorado. Sasuke dirigiu para as bancadas do aeroporto, o mesmo compraria sua passagem para Paris o quanto antes.
– O vai fazer? – Kushina perguntou assim que se aproximou do moreno, este apenas se dirigiu a uma das atendentes, ignorando a pergunta da Uzumaki, e pediu passagens para Paris, a ruiva arregalou os olhos, mas logo depois sorriu com a decisão do Uchiha. – Também irei, já faz algum tempo que não vou a França. – falou em um tom divertido. – Nada melhor do que tentar uma reconciliação amorosa na cidade do amor, não é? – Sasuke revirou os olhos entediado e sorriu pequeno, o mesmo esperava que tudo desse certo no final.
***
A turbulência do avião o despertou, Naruto não era muito fã daqueles tipos de viagens, por isso sempre tomava um remédio para dormir durante o voou, porém se arrependia ao acordar com sua cabeça latejando de dor. Suspirou e massageou as têmporas para tentar aliviar a sensação de enjoou, por sorte o avião já tinha chegado ao seu destino, o loiro sorriu satisfeito com a visão da bela cidade, não seria nada mal viver em Paris durante um ano.
– Atenção Sr. Passageiros, o avião chegou ao seu destino, por favor, dirijam-se ao portão de desembarque e verifiquem suas bagagens! – um voz feminina saía de uma pequena caixa de som. – Esperamos que tenham feito uma excelente viagem! – Naruto levantou-se do seu assento e seguiu em direção a saída, sorriu ao avistar duas cabeleiras conhecidas.
– Vovó Tsunade e Vovô Jiraya! – o Uzumaki gritou feliz, chamando a atenção dos mais velhos, estes imitaram o gesto do neto e abriram as braços para receber o loiro eufórico. – Estava com tanta saudade de vocês. – declarou ajeitando-se nos braços da loira e aproveitando para sentir aquele perfume de “mãe” presente nela.
– Nem consigo acreditar que você está aqui conosco, Naru! – a mulher falou emocionada. – Olha como nosso neto cresceu, Jiraya. – Naruto tentava se livrar dos braços apertados de sua avó, pois a mesma estava deixando-o sufocado. – Perdoe-me, querido! – a mulher sorriu em graça ao ver o rosto vermelho do neto.
– Pensei que iria matar nosso garoto, Tsu! – a loira lhe lançou um olhar mortal, o homem apenas a ignorou e dirigiu sua atenção para o menino. – Tenho certeza que você irá amar o a nossa cidade, tanto que não vai sentir saudades de sua casa. – o grisalho abraçou os ombros do mais novo enquanto caminhavam em direção a saída do aeroporto, Naruto sorriu com as palavras de seu avô e só esperava que pudesse esquecer sua antiga vida em Tóquio, era o que ele mais desejava. – Sabia que Paris é considerada a grande cidade romântica? Tenho que certeza que meu garoto irá enlouquecer corações. – falou divertido e logo tomou feições sérias. – Caso algum idiota lhe machuque, eu mesmo irei capa-lo! – os avós do loiro sabiam de sua preferência sexual, mas não o julgaram por isso, afinal, ninguém manda no coração.
A sensação de paz aquecia seu peito, sentia-se tão bem ao lado dos mais velhos, era como se estivesse voltando para casa novamente, o loiro sorria constantemente com as brigas sem sentido dos seus avós e a forma carinhosa que lhe tratavam, enchia-o de felicidade. Finalmente, o mesmo pode se esquecer de seus problemas e preocupações, focando-se apenas no seu futuro e em como sua vida irá mudar em um ano. Ao chegarem na nova casa do Naruto, o mesmo seguiu em direção ao seu quarto com a ajuda de Tsunade, tudo que desejava era dormir o resto do dia para poder repor suas energias.
O quarto não era grande, mas não deixava de ser confortável para o Uzumaki, sorriu ao perceber todo o cuidado que seus avós tiveram em arrumar aquele cômodo, que um dia pertenceu a sua progenitora, podia sentir a nostalgia presente no local. Naruto aproveitou para tomar um belo banho, retirando da mala apenas algumas peças de roupa, já que não pretendia arruma-la agora, e depois jogou-se no colchão macio, estava prestes a cair no mundo dos sonhos se não fosse as fracas batidas do outro lado da porta.
– Entre! – o loiro respondeu ainda grogue de sono, a porta abriu-se revelando uma Tsunade séria e ao mesmo tempo preocupada. – Aconteceu alguma coisa, vovô? – questionou apreensivo, pois estava estranhando aquele comportamento anormal. – Fiz algo de errado? – naquele momento a ideia de que sua mãe já soubesse aonde estava deixava-o atormentado, mas logo retirou aqueles pensamentos, afinal, não seria possível a ruiva descobrir tão rápido ou seria?
– Isso é você que tem que me responder, querido! – exclamou calmamente vendo seu neto engolir em seco. – Sei que tens os teus motivos para ter vindo passar um ano conosco e quero saber quais são eles, pois creio que seja grave, já que que não avisastes Kushina. – Naruto arregalou os olhos incrédulo, não acreditando que fosse descoberto tão rápido, o mesmo suspirou, não tinha escolha, teria que contar a verdade.
– Minha mãe já sabe que estou aqui? – perguntou baixinho vendo-a assentir de leve. – O problema começou quando minha mãe me apresentou seu novo namorado. – a medida que as palavras saiam, suas lágrimas iam juntas, revelando sua verdadeira face abatida. – Desde que nos conhecemos, rolou uma tensão entre nós, desejávamos um ao outro e tudo ficava pior com as investidas do Uchiha. – Tsunade arregalou os olhos em surpresa, o seu neto jogou-se em braços chorando compulsivamente, aumentando a preocupação da mulher. – Eu não consegui resistir e acabei me entregando para ele. – o loiro abraçou-a ainda mais forte. – Eu traí a minha mãe e acabei me apaixonando pelo meu padrasto. Eu não merece o amor da minha mãe, vovó! – a dor tinha retornado ao seu coração com força total, deixando-o sem chão.
– Por isso veio até nós? Para se afastar desse homem? – perguntou já imaginando a resposta, o pequeno Uzumaki assentiu sem se desfazer do abraço, Tsunade sentia-se culpada por tê-lo feito lembrar de coisas tão dolorosas. – Não se preocupe, estaremos aqui por você! Nós amamos o nosso neto mais do que qualquer coisa e respeito sua decisão, saiba que as portas desta casa sempre estarão abertas para quando precisar. – aquelas palavras foram o suficiente para confortar o seu pobre coração sofrido. Os dois ficaram vários minutos em silêncio, apenas o som dos soluços do loiro eram ouvidos, com o tempo, o mesmo acabou pegando no sono nos braços de sua avó, esta lhe fazia um cafuné reconfortante, Tsunade sorriu e levantou-se calmamente para que o outro não acordasse com os seus movimentos e retirou-se do quarto. – Você ouviu toda a conversa? – perguntou ao marido que estava próximo a porta.
– Ouvi! – foi tudo que respondeu, eles ainda estavam tentando digerir toda aquela história, mas eles tinham certeza que não poderiam deixar que essa história continuasse assim. Os idosos seguiram o exemplo do neto e se recolheram por algumas horas, no entanto, Jiraya acordou assustado com as fortes batidas na porta de sua casa. – O que está acontecendo aqui? – questionou-se enquanto levantava-se forçadamente sendo acompanhando pela mulher, mas nenhum deles esperavam encontrar aquelas duas pessoas em sua porta. – Kushina? – o grisalho não poderia estar mais surpreso com a presença da filha, esta iria responder se não fosse uma quinta voz que se fez presente.
– Mãe? Sasuke? – Naruto sentia seu coração galopar dentro do peito ao rever aqueles olhos negros que tanto tentava esquecer, mas parece que o destino não estava afim de ser generoso consigo.